sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Best 0f 2007 - Parte 1


Depois de um longo e tenebroso inverno estamos de volta por aqui, cada um com seu clássico Top 2007. Eu li muita coisa esse ano e não faço nem idéia do número preciso (não sou nem de longe tão organizado quanto Maniac). Vou dividir a minha lista como fiz da outra vez, mas vou falar primeiro dos títulos e depois dos criadores. E pretendo ainda falar dos livros, mas tudo a seu tempo.

Não separei os títulos em uma ordem de preferência, mas como o Maniac dividi por ordem alfabética.

All Star Superman

All Star Superman se manteve entre as melhores leituras do ano em 2007. Grant Morrison sabe trazer a atmosfera das clássicas histórias do Superman que deitavam e rolavam no universo da ficção científica. É como ler uma daquelas clássicas histórias dele contra Braniac e todo seu aparato tecnológico, ou as maluquices que acabavam ganhando um espaço na Fortaleza da Solidão. Tudo isso somado a própria bizarrice que o Morrison traz com ele faz com que as histórias sejam muito interessantes e originais. E arte do Frank Quietly combina e muito com o título, principalmente por que ele tem um traço bem característico e diferente do que tem por aí. Na minha opnião ele esta produzindo seu melhor trabalho. Só duas coisas são ruins, a periodicidade do título é uma várzea e ele deve mudar de time criativo em breve.

Criminal

Ed Brubaker e Sean Phillips conseguiram com esse título trazer de volta um gênero a muito em baixa nos quadrinhos: o de crime. Gênero que tanto inspirou Tarantino e teve um revival muito bom no cinema, não havia desfrutado do mesmo sucesso nos quadrinhos. Até agora. Criminal é dividido em arcos de história que abordam grupos de personagens distintos. Na verdade não tão distintos, a primeira história que se estendeu do número 1 ao 5 abordou um ladrão e um roubo problemático, e a segunda contou a história do irmão dele que volta da guerra do Iraque e investiga o que aconteceu com seu irmão. A história é muito boa, os diálogos são inteligentes e não óbvios e a narrativa é dinâmica e tensa. A arte é belíssima, não só o desenho e arte final de Phillips, como as cores de Val Staples. E as capas pintadas de Phillips são belíssimas. Gibi de primeira.

Daredevil

Mais um escrito por Ed Brubaker, Daredevil continua bem interessante. A vida de Matt Murdock continua um inferno e tudo continua indo pro saco, mas ele continua brigando. O mais interessante é que este título não sofre das constantes reinvenções que assolam as HQs norte americanas, onde tudo que aconteceu é apagado e tudo aquilo que estava fudido esta agora bom. Tudo que o Bendis introduziu na vida do personagem ainda ecoa nas histórias atuais, todas aquelas histórias ainda tem conseqüências hoje em dia, o que serve para aumentar ainda mais a pressão. Michael Lark manda bem na arte, não é o Maleev, mas serve bem ao título.

Fables
Fables continua sensacional. Mesmo depois de mais de 50 edições o nível continua alto enquanto Bill Willingham explora a vida das fábulas depois dos contos. A trama esta cada vez mais intrincada. Mark Buckingham continua desenhando e sua arte continua se encaixando perfeitamente ao título. É uma hq bem original e bastante diferente. A única desgraça é que eu a leio através dos TPBs, que demoram muito a sair.

Game Keeper

Primeiro e único título da Virgin Comics que me interessou, Game Keeper foi criado pelo diretor Guy Ritchie e narra a jornada de vingança de um ex-caçador. Escrito por Andy Diggle, que já roteirizou diversos títulos para Wildstorm, e com belíssimos desenhos do novato Mukesh Singh, Game Keeper foi uma grata surpresa. A jornada é contada em 5 partes e a história é muito bem dividida mantendo a tensão e o interesse do começo ao fim. Boa história, bom roteiro e boa arte.

Hellboy Darkness Calls

Eu sou um grande fã do trabalho de Mike Mignola, e quando eu soube que ele não iria desenhar a nova saga de Hellboy já me preparei para o pior. Quando os primeiros quadros de Duncan Fegredo foram divulgados eu no geral gostei, mas ainda com o pé atrás. Depois de ler as 6 edições de Hellboy Darknes Calls cheguei a apenas uma conclusão: acredite em Mignola. A história escrita por ele, como sempre é fantástica, investigando cada vez mais fundo as origens de Hellboy e as conseqüências de sua existência. E arte de Duncan Fegredo é sensacional e se aplica perfeitamente ao título. Não é o Mignola, mas é uma abordagem diferente e interessante. Fegredo não tenta copiá-lo, o que seria um desastre, mas traz a sua contribuição, muito boa por sinal. Mais uma ótima série do personagem e uma grata surpresa.

Immortal Iron Fist

Se tem um gibi que realmente me fez esperar ansiosamente pelo próximo número foi The Immortal Iron Fist. O retorno de Danny Rand ao seu próprio título não poderia ter sido melhor. Ação dinâmica somada a exploração da extensa mitologia por traz do personagem fizeram desse meu título mensal preferido este ano. Ed Brubaker e Matt Fraction escrevem e David Aja cuida da arte. A história é bem interessante e busca dar profundidade ao mito do Iron Fist, mas sem se tornar excessivamente dramático ou piegas. E a pancadaria rola solta no melhor estilo, com muitas referências as artes marciais. Aja vem da mesma escola de Alex Maleev e Michael Lark, introduzida lá trás por Neal Adams e Bill Sienkiewicz, mas traz a sua própria contribuição a ela. E outros artistas também participam quando o passado é abordado na história. A capa ainda possui um layout bem legal que tem sido mantido. Depois de 11 edições mal posso esperar pela próxima.

La Chronique des Immortels

O primeiro europeu a aparecer na lista já é fruto do que eu disse quando escrevi sobre Blacksad. Cresci lendo Asterix e meu interesse nos quadrinhos europeus sempre existiu, só demorei um pouco para consegui-los. Adaptação de um romance homônimo de Wolfgang Hohlbein, esta hq é ricamente ilustrada por dois artistas, Benjamin von Eckartsberg e Thomas von Kummant. Eckartsberg cuidou dos cenários e Kummant dos personagens. O resultado é bem semelhante a uma animação, com cenários pintados e personagens mais estilizados. Belíssimo resultado. E a história, ambientada na era medieval, é bem promissora (só saiu a primeira parte).

Siegfried

O segundo europeu na lista aborda a já bem batida saga do herói Siegfried. Mesmo em quadrinhos a saga já teve um bocado de publicações. Mas a abordagem desta versão é um pouco diferente, a primeira parte (que foi só o que saiu até agora) acompanha Siegfried desde pequeno até a juventude. O texto é bastante poético e a arte é impressionante. Desenho primoroso e cores belíssimas. Se a história fosse uma merda, que não é o caso, já valeria só pela arte. Eu li uma edição especial que tem um dvd com um trailer da animação, muito boa por sinal, baseada na hq que esta sendo feita ao mesmo tempo. O projeto gráfico é muito bem feito e a edição é fantástica, muito bem trabalhada e com muitos extras. Minha única crítica negativa é quanto aos balões que não combinam em nada com arte e chamam muita atenção.


The Spirit

E por fim, mais um título que cai na mesma categoria do Hellboy, daqueles que eu não achava que podia ser bem feito e foi. O Spirit na verdade um pouco menos do que o Hellboy, pois ele já havia sido trabalhado por outras mãos que não as de seu criador na mini-série publicada pela Dark Horse anos atrás. Naquelas edições algumas poucas histórias me agradaram, mas a grande maioria bem abaixo do original. Não é esse o caso da série de Darwyn Cooke. Mantendo sua própria linguagem Cooke não tenta fazer o que o Eisner fazia, mas sim cria a sua versão do personagem sem se distanciar do original e usando os elementos clássicos que Eisner inventou e se tornaram tão característicos do personagem. Ótima história e arte fantástica, funciona quase como uma animação do Spirit. Cooke escreve e desenha, J. Bone arte-finaliza e o incansável Dave Stewart colore.

Na próxima vou falar de outros títulos que me agradaram, mas que não entraram no top 10.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Top Filmes 2007 - Parte 1 - A Lista


No ano de 2007 vi 45 filmes no cinema, mais 10 que passaram no cinema em 2007 mas que só vi depois em DVD, mais 8 que saíram diretamente em DVD sem passar pelos cinemas (não estou contando filmes antigos que saíram só esse ano em DVD) o que dá um total de 63 filmes vistos (estou contando filmes lançados comercialmente no Brasil em 2007, o que inclui filmes que saíram em 2006 lá fora, mas só chegaram em 2007 aqui no Brasil). Desses 63, os meus 10 preferidos, em ordem alfabética são (lembrando que é possível que tenha algum filme que não vi que poderia entrar na lista):

- A Conquista da Honra
- Os Donos da Noite
- Duro de Matar 4.0
- Extermínio 2
- Perfume: A História de um Assassino
- Possuídos
- Sunshine - Alerta Solar
- Tropa de Elite
- O Ultimato Bourne
- Zodíaco

Outros ótimos filmes do ano:
- 300
- Déjà Vu
- O Hospedeiro
- Medo da Verdade (esse não saiu ainda, mas vi na mostra)
- Pecados Íntimos
- Ratatouille
- A Vida dos Outros

Destaques negativos (na verdade, tentei evitar ver os piores lendo críticas antes de me aventurar em um filme):
- Maria
- 88 Minutos

Na parte 2, comentários individuais dos 10 melhores.

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domingo, julho 01, 2007

Sobre sonhos, filmes e crianças em perigo

Quando viver é mais importante do que vencer ou perder


Uma criança numa situação difícil pode render um belo filme – que o digam Cinema Paradiso, A Língua das Mariposas e o Império do Sol, entre tantos outros. Também pode render indicações ou premiações ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o que ocorreu com Kolya, Caráter, A Vida é Bela e Central do Brasil.

Embora eu não tenha assistido à cerimônia do Oscar este ano, confesso que torci secretamente pelas minhas crianças favoritas no cinema de 2006: Abigail Kathleen Breslin e Ivana Baquero, as protagonistas de Pequena Miss Sunshine e O Labirinto do Fauno, respectivamente. Infelizmente, nenhum deles ganhou o prêmio de melhor filme ou melhor filme estrangeiro, mas ganharam vários prêmios “secundários” que fizeram valer a torcida.

Em Pequena Miss Sunshine, conta-se a história de uma menina, Olive, que sonha em vencer um concurso de beleza. Embora sua esperança seja inabalável, desde o início o filme mostra que ela praticamente não tem chance: míope e gordinha, Olive tem que contar com a ajuda de uma kombi que mal funciona para chegar à Califórnia, acompanhada por uma família completamente transtornada, incluindo um irmão que fez voto de silêncio, um tio suicida, um avô viciado em heroína e um pai que é um guru de auto-ajuda fracassado.

Trata-se de uma comédia ácida, com atores verdadeiramente fantásticos, além de uma crítica feroz ao “american way of life” e da obsessão bela beleza e pela vitória que o caracterizam – nesse aspecto, muito mais interessante do que “Beleza Americana” e bem menos deprimente do que "Felicidade".

O Labirinto do Fauno traz como protagonista a pequena Ofélia, que se encontra numa situação ainda mais desesperadora que a de Olive. Após ser levada por sua mãe grávida para a casa do padrasto, um cruel militar franquista, em plena guerra civil espanhola, ela fica praticamente esquecida numa casa antiga e enorme, ocupada por fascistas e ameaçada por guerrilheiros, com sua mãe no leito de morte. E tudo que Ofélia tem para apoiá-la é o mundo de conto de fadas, com faunos e princesas, que existe em sua imaginação – embora possa ser mais real do que aparenta.

Além do roteiro excelente, o filme impressiona pelos efeitos especiais, principalmente quando retrata o mundo da imaginação de Ofélia. E cada aspecto do mundo fantasioso reflete um aspecto do mundo real – desde o rangido misterioso das coisas antigas até os monstros que se alimentam do sangue de criaturas inocentes.

É um filme triste, trágico e violento – embora, como tenha observado o diretor, traz uma violência realista; ao contrário de outros filmes sanguinolentos, nesse a violência tem conseqüências.

E, se você ainda não viu os filmes, talvez seja o caso de parar de ler por aqui (e ir assistí-los!).

Apesar de suas diferenças, ambos tratam do mesmo tema: a heróica luta entre a inocência davídica dos sonhos e a dureza tirânica do mundo real. Ou, de forma mais específica, da passagem da infância para a vida adulta, que inclui de forma quase inexorável a destruição – ou ao menos o aprisionamento, o que pode ser pior – do que há de mais puro nas crianças.

E é aí que mora a genialidade dos dois filmes.

Hoje em dia, espera-se do cinema americano “tradicional” que mostre histórias de auto-superação, de como o herói enfrenta condições terrivelmente adversas apenas para fazer triunfar sua força de vontade sobre um mundo perigoso e violento – e grandes filmes foram feitos com essa premissa. Em alguns dos mais interessantes, mesmo a vitória traz uma enorme dose de sacrifício, como nos recentes “300” e “O Grande Truque”, ou mesmo “Kill Bill”.

O lado ruim dessa “ideologia da vitória”, é claro, é como isto vira parte do imaginário norte-americano, que transforma o que deveria ser um saudável gênero ficcional numa crença perigosa de que o mundo deve ser moldado de acordo com os nossos desejos, que são muito menos altruístas do que gostaríamos de acreditar.

Tal pensamento gera tanto tolices cinematográficas aparentemente (e só aparentemente) inofensivas como “Quem Somos Nós?” (baboseira pseudocientífica inconseqüente, típica de um país que proíbe o ensino de Darwin em alguns estados e é o lar da Cientologia) e “O Segredo” (pérola do “misticismo de auto-ajuda” – se você realmente acreditar, você vai conseguir!) quanto ideologias mais perigosas que dominam a cabeça dos estadunidenses (e eu não vou falar aqui de George Bush porque ninguém agüenta mais o sujeito).

A verdade que a vertente mais “tolinha” dessa ideologia parece ignorar é que o mundo é um lugar hostil aos nossos sonhos, e a realidade tem suas próprias leis, totalmente alheias às nossas vontades.

Na sua vertente mais violenta, tal ideologia divide o mundo entre aqueles que conseguem impor a sua vontade – os “vencedores” – e aqueles que “fracassam” no intento, e não conseguem ser ricos, fortes ou bonitos como deveriam – os perdedores.

E é contra essa ideologia que Ofélia e Olive têm que lutar para não desistirem dos seus sonhos, ou seja, contra a auto-ajuda tola e o fascismo homicida.

Achou a comparação exagerada? Então assista de novo à cena do “Fauno” em que o padrasto de Ofélia proclama que os seus adversários afirmam que todos são iguais, mas na verdade há uma diferença – houve uma guerra e os fascistas venceram!

E voltamos para a dialética vencedor/perdedor, presente nos dois filmes e extremamente popular no mundo moderno.

E o que acontecerá com as meninas, no final? Será que Olive conseguirá tornar-se a “Pequena Miss Sunshine”, contra todas as probabilidades? Será que Ofélia conseguirá tornar-se a rainha das fadas e derrotar o exército fascista?

Ou será que as duas falharão miseravelmente, verão seus sonhos destroçados e serão eternas perdedoras?

Quem não gosta de simplificações poderá ficar feliz ao perceber que talvez a resposta não seja uma coisa nem a outra.

Porque, ao contrário do que acreditam os tolos, o mundo não atende magicamente aos nossos desejos, e é capaz de nos ferir ou até nos matar.

No entanto, dentro de nós, somos maiores do que o mundo – e, se eles forem grandes o suficiente, nenhuma situação poderá arrancar de nossos corações os nossos sonhos.

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segunda-feira, junho 11, 2007

Plano-sequência II

Depois do abandono total do blog por um tempo, mais uns planos-sequência só para entrar de novo no jogo.

Paul Thomas Anderson e a intro meio Goodfellas de seu maravilhoso Boogie Nights:


A briga side scroll de Oldboy:


A pancadaria na escadaria de O Protetor:


A intro do pouco visto mas maravilhoso Serenity:

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quinta-feira, maio 31, 2007

Ultimates' End


Enfim saiu o Ultimates Vol. 2 # 13 e enfim eu li. Depois de meses de espera, Mark Millar (escritor), Brian Hitch (desenhista) e Paul Nery (arte-finalista) lançaram o último número do segundo ano da saga e pudemos ler o final da história, ou pelo menos o final por enquanto.

Como no primeiro ano, o desenrolar da saga foi mais interessante do que o final. A segunda temporada, como foi chamada, abordou a divindade ou não de Thor e colocou o grupo contra um super grupo “terrorista” mundial. Formado por chineses, russos e árabes esse super grupo foi criado para se opor aos Ultimates e dominar os EUA. Isso tudo articulado por Loki, o irmão de Thor e deus da trapaça. Não vou contar aqui o que acontece, mas Millar tinha algumas possíveis rotas a seguir com a trama e ele escolheu uma dentre elas. Nada muito surpreendente, porém muito bem feito. E esse é o grande atrativo desse título.

Um dos melhores gibis dos últimos tempos, Ultimates sempre se destacou pela qualidade do que estava sendo apresentado. Millar escreve muito bem e sabe organizar idéias e conduzir a trama de forma interessante. Além de caracterizar os personagens com maestria e bolar diálogos muito bons. O Capitão América do universo Ultimate, e o Thor são, pra mim, dois dos melhores e todo o grupo de personagens é bem feito. Além disso a HQ ainda traz a temática do universo Ultimate, que é trabalhar com os personagens clássicos da Marvel de uma forma pós-moderna, ou seja, de fazer uma paródia crítica e antenada nos dias de hoje. O universo Ultimate é bem mais violento do que o universo “normal” da Marvel, e os personagens e as histórias são muito mais inseridos no contexto real do mundo. Millar usa isso para, por exemplo, criticar discretamente o governo Bush, especialmente neste final. Se ter HQs mais violentas é perigoso, ou se isso desvirtua os personagens, se é bom ou ruim não me interessa discutir aqui. Do meu ponto de vista são soluções criativas muito interessantes e oferecem muitas possibilidades de exploração desse universo. E vem também atender a uma demanda do atual público de quadrinhos, que já não é há muito tempo formado por crianças, e sim aqueles que foram crianças na década de 80 e início de 90, e aqueles que continuam lendo HQs desde sempre. Se é por causa desse tipo de título que não se tem tido renovação no público de quadrinhos, e eu acho que não, também não me interessa discutir aqui.

O que me interessa é ler os Ultimates como um produto claramente de sua época, e um produto de alta qualidade, como eu já disse. Além do texto muito bom de Millar, a arte de Hitch não tem paralelos no mercado de hoje. Não estou dizendo que ele é o melhor desenhista em ação hoje (rolem a página para baixo para descobrir quem eu acho que é o melhor hoje em dia), mas sim que ele é único no mercado norte-americano e é tratado como tal. Seu estilo realista, que não é um hiper realismo a lá Alex Ross pois tem um tanto de estilização, e sua narrativa cinematográfica são fantásticos e muito bem feitos. Seus desenhos super detalhados e sua renderização são impressionantes. Claro que isso tem um preço, que já foi pago por muitos outros, como Travis Charest pra citar um. Hitch demora muito mais tempo para desenhar suas histórias, e consequentemente suas HQs não saem mensalmente )pra dizer a verdade atrasam pra cacete!). E os fãs esperam, putos, mas esperam. Mas no geral sua arte é impressionante, e esta última edição é completamente dedicada a ela, páginas e mais páginas de combate destruindo a o país inteiro. Até um spread de seis páginas da batalha final tem na HQ.

Tanto a primeira temporada quanto a segunda teve boas histórias, momentos marcantes e finais abaixo do esperado. Não muito abaixo, mas menos interessantes do que prometiam. Mas ambas mostraram que tudo é possível neste universo Ultimate. Ao final, o grupo deixa de ser uma força financiada pelo governo norte-americano e passa a trabalhar de forma independente, objetivando atuar, a partir de agora, de forma global.

E é exatamente o futuro do título que vem preocupando os fãs. O fim desta temporada marca a despedida de Millar e Hitch e a dupla que vem por aí é completamente diferente dos dois. Jeph Loeb assumirá os textos e Joe Madureira os desenhos. Acho bacana a iniciativa de chamar uma dupla diferente, como o próprio Millar disse, seria muito ruim ter alguém parecido com eles continuando a HQ. O problema, a meu ver, são os nomes escolhidos. Loeb, pra mim é, por demais burocrático para trabalhar em um título tão violento e com uma realidade tão crua como Ultimates. Não estou dizendo que ele não é bom, particularmente não sou muito fã de seu trabalho, apesar de ter gostado bastante das colaborações dele com Tim Sale em Batman The Long Halloween e Superman For All Seasons. Mas acho que ele trabalha bem quando apela para uma certa poética na narrativa, como em Superman For All Seasons, mas não tão bem quando trabalha com temas mais pesados. Seu texto funcionou bem no mistério de Long Halloween, mas funcionou muito mal em Batman Hush, que fez em parceria com Jim Lee. A saga foi boa, mas o final estúpido. E sua participação no título Superman/Batman foi de dar nos nervos de ruim. Assim, entendo o ceticismo dos fãs quanto a sua escalação.

Como também a de Joe Madureira, cujos trabalhos fogem por completo da temática Ultimates. Seu traço é muito cartunizado e mangá para o realismo da HQ. Gosto bastante de seu trabalho, mas é um bocado repetitivo. Ele está afastado do mercado faz um bom tempo, aparentemente trabalhando com games, então não sei o quanto ele pode ter mudado nesse meio tempo. De qualquer forma, acho a escalação dele menos pior do que a de Loeb. Obviamente que ambos podem fazer um trabalho do caralho no título, aliás, estou torcendo para que façam, mas vou esperar pra ver. E é claro que o primeiro objetivo da Marvel, que é explodir de ganhar dinheiro, está mais do que garantido com a dupla.
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Em tempo: Será relançado agora em julho toda a saga dos Novos Deuses do Kirby. Sairá em um encadernado gigante, de capa dura e com 396 páginas com The New Gods #1-3, Forever People #1-3, Mister Miracle #1-3 e Superman's Pal Jimmy Olsen #133-139 todos organizados cronologicamente. Jack Kirby's Fourth World Omnibus vol. 1 é imperdível para qualquer fã de quadrinhos, psicótico ou não.

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quarta-feira, março 07, 2007

Fables



Finalmente eu li Fables. Uma das séries mais faladas nos últimos anos, o título da Vertigo/DC lançado em 2003, narra à vida dos personagens oriundos das mais diversas fábulas e contos de fada vivendo em Nova York nos dias de hoje. Como? Tudo obra da mente de Bill Willingham, criador e escritor da série.

Expulsos de sua terra natal por um inimigo conhecido apenas como “O Adversário”, os personagens se refugiam em Nova York onde estabelecem uma comunidade clandestina chamada de Fabletown. Willingham deita e rola usando os personagens e construindo a sociedade onde eles agora vivem. Aqueles que possuem forma humana, ou que conseguem assumir uma vivem na parte urbana de Fabletown, os demais que são animais ou criaturas vivem em uma parte da comunidade localizada no interior do estado, em uma espécie de fazenda.

Eu não vou falar aqui da história em si, pois os TPBs (já são 8) estão aí pra quem quiser ler, e sim das soluções de Willingham que, na minha opinião são geniais (procure no Wikipedia se quiser saber mais sobre a história e os personagens da série, mas eu ainda sugiro ler os gibis). A idéia de trabalhar com personagens de fábulas traz uma série de benefícios, sendo a liberdade que o fato destes personagens não estarem mais presos a ninguém por direitos autorais traz, a maior delas. Willingham pode fazer o que quiser com eles, inclusive matá-los. Mas ele mesmo criou um freio para essa tentação, pois os personagens mais queridos do público leitor de fábulas e contos de fada não morrem, ou são incrivelmente difíceis de matar. Além disso, Fables não tem relação nenhuma com a cronologia da DC, o que permite que seu autor tenha total liberdade para trabalhar todo o universo da história. E Willingham não desperdiça nada, usando todas as oportunidades que as histórias lhe oferecem para tornar ainda mais interessante a trama. Por exemplo (se você não leu a primeira saga de Fables, talvez queira pular as próximas linhas): Snow White (Branca de Neve) é atingida na cabeça por um tiro do rifle de Goldilocks (Cachinhos Dourados) no fim de uma edição, o quê, dado o que já havia acontecido na história, levou o leitor a crer que ela havia morrido. Só na edição seguinte descobrimos que os personagens mais populares não podem morrer pois são muito queridos pelos humanos, o que leva Snow White a uma longa e dolorosa recuperação.

A própria estrutura narrativa de Fables é muito bem bolada. As histórias são divididas em arcos como a maioria dos gibis de hoje, mas estes arcos são fechados pelos temas que eles abordam e geralmente envolvam personagens que muitas vezes não voltam mais. Ou, em outros casos, introduzem novos personagens. Além disso, Willingham vai aos poucos revelando o que aconteceu com todos os personagens desde que nós os vimos pela última vez, nas fábulas ou contos originais, até sua situação atual. Mais ou menos nos moldes do que o Lost faz muito bem, mas com menos freqüência do que o seriado de TV. Assim, conforme acompanhamos a trama principal, Willingham nos apresenta os desdobramentos das histórias de cada personagem e o caminho que este tomou para chegar a Fabletown. Na maioria das HQs quando os arcos de história terminam, geralmente temos que aturar 2 ou 3 edições de histórias fechadas onde o desenhista principal tem folga, ou a temática das histórias nada acrescenta a narrativa geral do personagem. Ao invés de aproveitarem a oportunidade para abordar eventos ou histórias mais concisas, acabam por desperdiçar espaço só para encher lingüiça até o próximo arco de histórias. Willingham, por outro lado, faz uso dessas edições “entre-arcos”, para contar passagens mais extensas da vida dos personagens.

Além de tudo isso Willingham abusa da longevidade dos personagens, o tempo realmente passa na história, apesar de ninguém envelhecer realmente (pois eles são personagens de contos de fada, lembra?). Diferentemente da maior parte dos gibis, o tempo passa e as coisas realmente acontecem. Filhos nascem, pessoas perdem e ganham emprego e, eventualmente, morrem. E o autor ainda brinca com a própria relação entre os contos, o Príncipe Encantado, por exemplo, é o mesmo para todas as histórias e consequentemente para todas as “donzelas”. Sendo assim, seu casamento com Snow White durou até que ele foi pego na cama com a irmã dela, pois sua infidelidade é tão certa quanto sua capacidade de conquista. Ao se separar de White ele se casou com a Bela Adormecida, de quem se separou para casar com Cinderella, sua útlima ex-esposa. De todos os personagens da série, Bigby Wolf (ou Big Bad Wolf, o nosso Lobo Mau) é o meu preferido. Seus crimes do passado foram perdoados e ele assumiu o cargo de xerife de Fabletown, mas jamais pode pisar na fazenda, lar dos “animais” das fábulas. Ele é uma espécie de Wolverine dos contos de fada, mas um pouco mais eficaz e perigoso.

E não é só no texto e na criação que Fables se destaca, a arte também é muito bem cuidada. Na maior parte das histórias é Mark Buckingham que cuida dos traços. Ele pode não ter um dos mais chamativos estilos, mas seu desenho combina muito bem com a narrativa desses contos de fada modernos. Além de Bucknigham diversos nomes já desenharam Fables, com destaque para o veterano P. Craig Russel. Mas é nas capas que a arte de Fables é levada a outro patamar. Desde o início, o responsável pelas capas de Fables é James Jean. Nascido em Taiwan, mas criado nos EUA, Jean é um ilustrador formado pela School of Visual Arts de NY. Desde que se formou ele vem trabalhando com quadrinhos como capista para DC, e em Fables encontrou um palco perfeito para suas habilidades. Com um desenho belíssimo e um profundo entendimento de cores, Jean faz da ousadia sua marca, mas uma ousadia pautada pela sutileza quase etérea. Mesclando diferentes técnicas ele confere a suas peças um visual mágico e perigoso ao mesmo tempo, digno de qualquer conto de fadas, e sua ousadia traz esse conto de fadas para a modernidade. Seja na capa das HQs ou dos TPBs, James Jean é sem dúvida um dos grande atrativos dessa série imperdível para qualquer leitor interessado em boas histórias.

terça-feira, março 06, 2007

Heróis de Carne e Osso


O seriado “Heroes”, que retrata o drama de pessoas comuns repentinamente transformados em super-humanos, mostra mais uma vez que a televisão já alcançou o cinema em criatividade e interesse – agora, na seara dos quadrinhos




A moda de super-heróis já vem fazendo sucesso nos cinemas há alguns anos – com resultados que variam do genial ao desastroso. A onda serviu para dar mais respeitabilidade e visibilidade aos quadrinhos, que hoje ninguém mais vê como “coisa de criança” se parecer ignorante, além de fornecer novos recursos para a cinematografia americana, que, há tempos sem roteiros que prestem, tem sobrevivido na base de adaptações, refilmagens, seqüências e “prequels” de tudo quanto é tipo. Quem acompanhou o Oscar de 2007 sabe do que eu estou falando.

Não foi fácil, é claro, transferir para o cinema um gênero tão intrinsecamente ligado à sua mídia original. Nesse aspecto, uma adaptação televisiva, apesar de trazer suas próprias dificuldades, traz também alguns recursos das hq’s que encontram melhor utilização na telinha, como o velho bordão “to be continued”, ou seja, dividir a história em vários capítulos que acabam sempre num clímax, fazendo o espectador esperar ansiosamente pela próxima edição.

Vencidos os primeiros obstáculos, descobriu-se que o filão era bastante lucrativo para todos os envolvidos.

Essa nova galinha dos ovos de ouro, no entanto, foi tão espremida pelos gananciosos produtores de Holywood que muitos já apontam o seu esgotamento. O seriado “Heroes” surge, assim, para tratar de um tema que já foi inventado, esgotado, reinventado e revolucionado várias vezes, não só nos gibis como, agora, nos cinemas – e, num território tão explorado, é impossível falar da série sem citar algumas de suas muitas influências ou cair no inevitável lugar-comum das comparações.

O enredo de “Heroes” é bastante simples: um grupo de pessoas, até então sem nada de especial, começa a descobrir poderes sobrenaturais, como levitação, regeneração, telecinese, etc., o que afetará não só suas vidas particulares, mas, eventualmente, o destino da espécie humana.

Muitos têm dito que a idéia de “Heroes” deve muito ao “Watchmen” de Alan Moore, a primeira “graphic novel” que conseguiu mostrar de maneira convincente como seria o mundo real se os super-heróis existissem de verdade. Na obra de Moore, não apenas os “poderes” dos heróis são bastante ordinários – um depende de tecnologia avançada, dois se destacam apenas pelo comportamento violento, e outro deve seu sucesso ao seu brilhante intelecto (e é o primeiro a perceber quão idiota é a idéia de um monte de adultos usando fantasias de carnaval, quando existem problemas mais urgentes, como a guerra fria, a serem resolvidos) – como também suas personalidades cheias de falhas, sendo os personagens inseguros, confusos, indiferentes, fascistas ou simplesmente psicóticos.

Realmente, há alguma semelhança. No entanto, parece-me que uma comparação mais pertinente - e óbvia - seria com os X-men originais. De fato, a idéia de seres humanos comuns, de várias raças, nacionalidades, etnias e culturas diferentes, descobrindo que super-poderes em seu código genético e juntando-se para combater o mal era a força original da equipe criada por Stan Lee e Jack Kirby, e consagrad por Chris Claremont, o que foi abertamente reaproveitado em “Heroes”.

O interessante é que, embora originalmente os X-men fossem uma equipe bastante incrível e fantasiosa, através dos anos as aventuras da equipe tornaram-se metáfora para situações e dificuldades bastante reais – como o racismo, o homossexualismo, a opressão e o preconceito. Assim, aquele grupo de pessoas que voavam, liam pensamentos e soltavam laser pelos olhos tornou-se muito mais “séria” e “realista” do que os outros super-heróis.

Desse modo, “Heroes” se distancia do trabalho de Moore e se aproxima do trabalho de Claremont; e, ainda assim, convence como uma história de “super-heróis no mundo real”. Por quê?

Em primeiro lugar, pelo multiculturalismo. A idéia de pessoas de todos os tipos descobrindo poderes especiais tem muito mais atrativos para o “globalizado” mundo moderno do que heróis como o Capitão América ou mesmo o Super-Homem, vistos por alguns como representantes da hegemonia estadunidense, que anda em baixa até nos próprios EUA.

Em segundo lugar, mais do que os personagens psicopatas de Moore, e mais do que os fabulosos X-men originais, a trupe de “Heroes” convence como um grupo de pessoas comuns.

E, nesse aspecto, justifica-se a terceira comparação inevitável – os personagens de “Heroes” são mais humanos que os personagens de “Lost”. Pois, por melhor que seja a série de J. J. Abrams e Damon Lindelof, todo mundo se pergunta qual a probabilidade de juntar num mesmo avião um número tão grande de pessoas bonitas, musculosas, e com os passados mais dramáticos e misteriosos que se possa imaginar? Quem era realmente uma “pessoa comum” antes de cair naquela ilha?

Os “Heroes” são menos heróicos e mais perdidos do que os personagens de “Lost”. Alguns anseiam por salvar o mundo, sem saber exatamente como, mais outros estão mais preocupados em preservar sua imagem, salvar seu casamento, pagar suas contas, e até fugir dos criminosos e vilões que os perseguem. E é muito mais fácil para o espectador identificar-se com o novo seriado, em que os recém-descobertos super-poderes começam a causar problemas em suas famílias e empregos, do que com os acidentados de “Lost” ou mesmo os super-psicopatas de Moore.

Do mesmo modo, “Heroes” lida muito bem com outro conceito “difícil” das hq’s: a inverossimilhança da existência dos chamados “super-vilões”, com seus planos mirabolantes para dominar o mundo. Como no mundo real, os vilões de “Heroes”, assim como os mocinhos, estão apenas tentando fazer o que entendem ser o melhor para o mundo – o que os separa é apenas sua disposição em sacrificar a si mesmos, ou aos outros, em troca de seus “nobres” e “justos” ideais. Uma linha tênue que certamente será cruzada por muitos dos protagonistas.

É inegável que a série é cheia de lugares-comuns: agências secretas lideradas por vilões engravatados, japoneses incrivelmente inocentes, donzelas em apuro, uma ponta de Stan “The Man”, etc. No entanto, a forma com que o seriado torce e modifica os estereótipos é justamente seu maior trunfo.

Os poderes dos super-heróis, por exemplo, nem sempre são compatíveis com seus portadores. Enquanto em obras como “X-Men”, “Os Incríveis” e “Ricardo III” as alterações no corpo dos personagens são reflexos de sua personalidade, em “Heroes” muitas vezes ocorre justamente o contrário. Um exemplo: nos gibis dos X-men, Wolverine é um sujeito casca-grossa, que fuma, bebe, e não leva desaforo para casa, e seu corpo é capaz de se regenerar – tão invulnerável como seus nervos de aço. Em “Heroes”, há uma garota que tem os mesmos poderes que Wolverine – e é justamente a mais frágil e amedrontada de todas, que tem de ser salva repetidamente pelos outros protagonistas. O “Hero” mais heróico, que sonha em salvar o mundo, tem no início do seriado o poder mais “café-com-leite” e dependente; e o “hero” com o poder mais fantástico – controlar o tempo e o espaço - é o mais “nerd” e ingênuo de todos! Isso para não falar de outro personagem que, apesar de conseguir voar, não é capaz de “tirar os pés do chão” para perceber no tamanho da confusão em que ele está envolvido.

Para os fãs do gênero, o seriado traz uma série de referências. A começar pelo nome do protagonista do primeiro episódio, “Peter Petrelli”, um indisfarçável tributo ao primeiro e original “heróis com problemas de um cara comum”, Peter Parker – o Homem-Aranha. Outro personagem, Hiro Nakamura, é um autêntico fã de quadrinhos e sci-fi, comparando-se constantemente ao Super-Homem, Homem-Aranha ou Dr. Spock – é o personagem mais simpático de todos, talvez por querer retratar os possíveis fãs do seriado. E um terceiro personagem, além de pintor, é um desenhista de quadrinhos – que são discretamente retratados como uma forma de arte. Aliás, em http://www.nbc.com/Heroes/novels/, há uma série de “graphic novels” contando muitas histórias sobre os personagens que não foram mostradas na telinha. É coisa para fãs, mesmo.

Minha referência preferida, que não vai passar despercebida nem por aqueles que nunca tocaram num gibi, é que lá pelo décimo episódio um novo personagem, Gabriel Gray, mostra a cara – ele parece demais com o Super-homem do cinema, mas por dentro é justamente o oposto do kriptoniano!

Conforme o seriado evolui, tudo indica que os heróis vão se tornar cada vez mais poderosos, realizando todo seu potencial. Nesse caso, corre-se o risco de transformar um divertido drama sobre pessoas comuns que adquirem poderes especiais numa série de ação sobre humanos super-poderosos, com resultados imprevisíveis.

Aconteça o que acontecer, as primeiras duas temporadas de “Heroes” situam-se na fase mais dramática e interessante na chamada “saga do herói”, popularizada por Joseph Campbell – a fase em que o ser humano comum escolhe ser extraordinário, apesar de todos os perigos que isso possa acarretar – e talvez por isso mesmo seja uma das coisas mais interessantes que surgiu na televisão nos últimos tempos.

“Heroes” estreou no Universal Channel em 2 de março. Com sorte, estréia logo na Record. Vale a pena. Hoje em dia, pode ser mais divertido do que ir ao cinema.


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sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Plano-sequência

Plano-sequência é uma cena de um filme que é rodada numa tomada só sem cortes, não contando com os truques da montagem. Eu particularmente adoro um plano-sequência. Um dos mais famosos é a cena inicial do clássico de Orson Welles A Marca da Maldade, um belo plano sem cortes de 3 minutos e 10 segundos e que elevou o orçamento do filme de 1958 consideravelmente. Num seminário de Direção Audiovisual que fiz pela Educine em 2005, durante a palestra que falava de planos, essa foi a cena usada para ilustrar um plano-sequência. Mas depois de ver Filhos da Esperança o ano passado acho que os professores de cinema vão ter que renovar e começar a mostrar as maravilhosas sequências desse filme em suas aulas. O sensacional filme do Alfonso Cuarón possui cenas revolucionárias nesse sentido. Uma das cenas se passa dentro de um carro e dura 3 minutos e 57 segundos e outra durante um tiroteio dura impressionates 6 minutos e 3 segundos (e que me lembra um pouco as sequências urbanas do jogo Half-Life 2). Tudo bem que eu li que existe trucagens nas cenas, mas isso não as torna menos impressionantes. Breaking News - Uma Cidade em Alerta, dirigido por Johnny To, o mesmo de Eleição - Submundo do Poder, também possui um belo plano-sequência inicial de 6 minutos e 31 segundos (sendo 2 minutos e 26 segundos de tiroteio). Outros filmes com cenas desse tipo são: O Jogador do Robert Altman, Festim Diabólico do Hitchcock (o filme inteiro composto de 8 planos-sequência), Os Bons Companheiros do Scorsese, Arca Russa (filme de uma única tomada de 1 hora e meia que infelizmente ainda não tive a oportunidade de ver) e vários outros.

Abaixo os planos sequência de A Marca da Maldade, Os Bons Companheiros e Breaking News . As cenas do Filhos da Esperança também podem ser encontradas no YouTube, mas como elas contém vários spoilers preferi não colocá-las aqui, pois esse é um filme que merece ser visto inteiro (mas quem não aguentar e quiser ver, é só procurar no YouTube).

A Marca da Maldade:


Os Bons Companheiros:


Breaking News - Uma Cidade em Alerta:

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Filmes Vistos em Janeiro

Essa é a lista de filmes que vi ou revi em janeiro (em ordem alfabética), sem contar os episódios dos seriados que acompanho na televisão e na internet, como Prison Break, C.S.I., Heroes, Masters of Horror, etc. Foram 29 filmes (contando o curta La Jetée), média de 0,93 por dia.

Ano Passado em Marienbad
Apocalypto
O Bandido da Luz Vermelha
Brigada 49
Charada
Como Se Fosse a Primeira Vez
A Dama na Água
16 Quadras
Diabo a Quatro (Duck Soup)
Dog Soldiers - Cães De Caça
Duelo de Campeões
O Efeito Dominó
La Jetée (curta)
The King
A Marcha dos Pingüins
O Massacre Da Serra Elétrica (2003)
Medo X
Memórias de um Assassino
Pacto Sinistro
Psicopata Americano
Um Refúgio No Passado
Rota Mortal
Sexy Beast
Superman - O Retorno
Traição
A Vida e a Morte de Peter Sellers
Vingança Final
007 - Cassino Royale
Zona de Risco

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Rejeitado

Na premiação independente de Sundance, o animador Don Hertzfeldt ganhou o prêmio do jurí de melhor curta-metragem com a animação Everything Will Be OK. Don é co-fundador do The Animation Show, o festival de animação que mais colocou curtas de animação nos cinemas da América do Norte em toda história. Don não usa computadores na produção de suas animações e não gosta de usar scripts, preferindo começar criando um conceito e ir modelando o filme durante o processo, o que possibilita várias experimentações e muita espontaneidade. Ele ainda possui e usa a câmera que foi usada para animar o desenho de 1965 A Charlie Brown Christmas (dados pegos no site imdb). Acompanhe a sua animação Rejected, que concorreu ao Oscar de curta-metragem animado em 2001 (e é bem engraçada):

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Destaques de 2006

Neste mês meio morto de janeiro, continuo com os destaques de 2006. E para começar destaco algumas coisas que me chamaram a atenção (e algumas não necessariamente saíram em 2006).

Blacksad

Eu já falei muito sobre Blacksad (só rolar a página para baixo e ler), por isso só vou comentar que a terceira parte da saga, que saiu em 2006, manteve o nível da série imperdível.

Kristian (Artista de Supermarket)

Grata surpresa no mundo indie, ou não tão indie pois o roteiro é de Brian Wood, Kristian foi artista da boa mini-série Supermarket. Com desenhos estilizados e cores bem gráficas ele ainda trouxe alguns elementos de narrativa bem interessantes.

The Wonderful Wizard of Oz

Belíssima adaptação da história de L. Frank Baum pelos espanhóis David Chauvel e Enriqeu Fernández. Publicado originalmente na França, o gibi saiu pela Image nos EUA, e enfim eu pude ler (já que eu não leio bosta nenhuma de francês). Com uma abordagem contemporânea a obra a HQ é muito bem escrita e a arte de Fernández, oriundo da animação, é soberba com cores muito bem trabalhadas. Mais um artista de animação arrebentando nos quadrinhos.

Conan (Mignola e Cary Nord)

Eu sou puta suspeito pra falar do Mignola, mas estas edições dele escrevendo e o Cary Nord desenhando o Conan foram bem interessante. Essa série nova do Conan pela Dark Horse tem sido cheia de altos e baixos, mas estas edições são muito boas.

Mouse Guard

Quem diria que a história de um rato faria tanto sucesso. Mas não é qualquer rato e sim uma sociedade de ratos em um mundo medieval. A história enfoca as aventuras de um grupo de guerreiros guardas reais. E além da história e da arte serem boas, a HQ foge dos estereótipos pois os ratos não são gigantes (como as Tartarugas Ninjas), nem tem poderes especiais, são sim organizados e vivem como uma sociedade humanizada. Seus grande inimigos são outros ratos e as cobras. É meio um Fivel violento e de macho.

Solo

Infelizmente outra série que aparentemente bateu as botas por falta de público. Uma ótima idéia comandada por Mark Chiarello na DC, Solo consistia em edições independentes que eram dadas a artistas específicos para que eles produzissem histórias diversas, as vezes sozinhos, as vezes acompanhados de roteiristas. Destaque para as edições de Darwyn Cooke (a melhor) e Sergio Aragonés.

Casanova

Boa novidade da Image, Casanova é um gibi de espionagem com um pesado toque de ficção científica. Recheado de viagens interdimensionais a HQ foi criada por Matt Fraction, que agora esta escrevendo a boa série do Iron Fist, e traz desenhos do brasileiro Gabriel Bá. Demorou um pouco pra eu gostar, mas valeu o investimento. Boa história e boa arte (cada vez melhor).

Alan Davis FF The End

Ótima série The End sobre o Quarteto Fantástico, na verdade a melhor dos The End até agora. Nessa série a Marvel coloca criadores para imaginar os eventos finais de personagens. E Alan Davis foi uma ótima escolha, desenhando muito o inglês vem contando uma história muito boa. Resta ver como acaba.

Fables

E finalmente eu comecei a ler Fables, a tão falada série da Vertigo que aborda os contos de fada com uma visão absurdamente contemporânea (eu diria até pós-moderna). E já não era sem tempo! Pra não chover no molhado vou ser breve: é tudo verdade. Leia logo!

Sleeper

Juntamente com Fables, resolve enfim ler Sleeper que há muito eu rondava. E foi infinitamente superior do que eu imaginava. Um thriller de espionagem usando super-heróis e o universo da Wildstorm como palco. A história, escrita por Ed Brubaker, é ágil e dinâmica, os diálogos são inteligentes e a trama genial. A arte de Sean Phillips combina com o tema. Uma das melhores coisas que eu li nos últimos anos.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Top seiláquanto


Pra começar o ano trago os meus melhores de 2006. Fui um pouco mais corajoso do que o Maniac e tentei dividi-los em uma ordem e ainda destaquei os melhores nos dois campos. Mas não numerei pois acho que alguns ficariam juntos e isso seria muito mais complicado (lembrem-se que eu falei um pouco mais corajoso!).

Melhor Escritor

Ed Brubaker (Captain America, Daredevil e Criminal)

Brubaker é o mestre das HQs de crime, e surpreendemente se deu bem em diferentes personagens. A HQ do Capitão América melhorou e muito depois que ele assumiu junto com Steve Epting na arte. Além disso, ele pegou a bomba de seguir Bendis no Demolidor depois das trocentas edições que este fez com o Maleev (que foram sensacionais por sinal). E Brubaker não só manteve o nível como em alguns momentos excedeu. E ainda lançou Criminal, que ainda não acabou, mas já agradou. Melhor escritor do ano pra mim.

Warren Ellis (Nextwave e newuniversal)

Warren Ellis deveria estar todo ano nas listas de melhores. Nas minhas pelo menos ele sempre esta, e esse ano principalmente por um título, Nextwave. Como eu já falei muito sobre Nextwave aqui, quem quiser entender mais é só rolar a página para baixo.

Mark Millar (Civil War e ocasionalmente Ultimates)

Millar já provou que é muito bom, e esta fazendo um puta trabalho comandando e escrevendo o Civil War, que segue muito bem (apesar do maldito atraso). Vamos ver como termina. Identity Crisis do Brad Meltzer foi bem até o último número, daí cagou tudo e mudou muito pouco. Torço pra que Civil War acabe tão bem como começou. E além disso ele continua escrevendo Ultimates, que sai uma vez a cada equinócio, mas continua foda. Pena que é a última série dele e do Brian Hitch por lá.

Brian Wood (Supermarket e DMZ)

Além de seus gibis se beneficiarem do fato de Brian Wood ser um designer e cuidar de toda a parte gráfica com categoria, eles são muito bem escritos e originais. Supermarket foi uma das melhores mini-séries que eu li esse ano, e mesmo o final ter deixado um pouco a desejar, não estragou. E DMZ é dos melhores gibis que surgiram nos últimos tempos, e continua firme. Wood esta indo pras grandes editoras, vamos ver no que vai dar.

Grant Morrison (All Star Superman, 52)

Morrison esta aqui exclusivamente por estar escrevendo All Star Superman, que é um dos melhores títulos que eu li esse ano. Belíssimo trabalho com o Homem de Aço, mesmo com tudo que já foi feito por aí, Morrison conta uma história do Superman muito interessante, repleta daquela ficção científica já vistada por Alan Moore quando trabalhou com o herói. Bem mais do que o All Star Batman por sinal.

Brian Bendis (New Avengers e Ultimate Spider-Man)

Bendis dispensa comentários, depois de fechar com chave de ouro sua passagem pelo Daredevil, e manter o nível no Ultimate Spider-Man há mais de 100 edições, ele ainda arrumou tempo para dar uma turbinada nos Avengers e arrebentou no New Avengers. E ainda participou do Civil War.


Melhor Desenhista

Lenil Yu (Ultimate Wolverine vs Hulk, New Avengers, Silent Dragon)

Lenil Yu arrebentou esse ano. Depois de trabalhar um tempo na DC (onde desenhou o ótimo Superman Birthright) e finalizar sua mini-série para Wildstorm (Silent Dragon) ele retornou a Marvel e desenhou o Ultimate Wolverin vs Hulk. Animal o trabalho, pena que só saíram dois números. Sem residência fixa ele desenhou pra todo o lado na Marvel, uma série de capas e pequenas histórias, com destaque para a história do Luke Cage no New Avengers, que por sinal será enfim sua casa em parte de 2007. Melhor desenhista do ano.

Darwyn Cooke (Batman/Spirit e Spirit)

Cooke já tinha quebrado tudo em New Frontier, que foi republicado em um Absolute e trouxe uma cacetada de esboços dele. O que só comprovou o que eu já sabia. Oriundo da animação Cooke tem um senso estético apurado e uma habilidade gráfica impressionante. Ao casar isso com Batman e principalmente Spirit, não tem como não arrebentar.

Steve McNiven (Civil War)

Eu vi o trabalho de McNiven primeiro no Fantastic Four Marvel Knights e gostei bastante. Bem influenciado por Travis Charest, McNiven arrebentou no New Avengers e foi escalado para desenhar o maior evento da Marvel no ano, Civil War. E pelo que eu vi até agora continua mandando bem.

Stuart Immonen (Nextwave)

Também já falei desse no texto sobre Nextwave lá embaixo. Immonen me impressiona desde Superman Secret Identity e no Nextwave não decepcionou.

Adam Kubert (Action Comics)

Eu sou meio suspeito pra falar de Adam Kubert, sou fã do trabalho dele desde Wolverine ou X-Men. E enfim ele resolveu brincar no quintal vizinho e assumiu os desenhos do Superman em Action Comics, e sua arte esta espetacular. Ainda não saquei exatamente por quê, mas ele mudou mais uma vez e agora com algo bem inovador. Vou esperar para ver as próximas edições antes de dizer mais.

Hiroaki Samura (Blade of the Immortal)

Isso é que é consistência! Depois de 120 edições de Blade of the Immortal eu não consigo olhar pra trás e lembrar de alguma que eu tenha lido e achado o desenho mais ou menos. Ou que eu tenha percebido que estava pior do que as outras. Samura sempre impressiona, mesmo quando desenha pouco.

Juanjo Guarnido (Blacksad)

Já falei dele também, procure o texto sobre Blacksad aí embaixo. O terceiro volume da série só provou que o espanhol desenha muito.

Carlos Pacheco (Superman)

Gosto bastante da arte de Carlos Pacheco, desde Avenegers Forever, passando por Arrowsmith e agora Superman. Li três edições dele no Super e achei muito boa a arte.

John Romita Jr. (Eternals)

Outro cara que eu sou supeito pra falar. JrJr pra mim é um dos melhores. Storytelling, desenho, o que for ele arrebenta. Não desenhou tanto como em outros anos, mas sua arte em Eternals, escrito por Gaiman, foi um puta trabalho.

sábado, janeiro 06, 2007

Melhores de 2006 - Parte 1 (Filmes)


Começo de ano, tempo de premiações e bilhões de listas ao redor do mundo com os melhores filmes do ano passado. Aqui está a minha lista dos 10 melhores filmes de 2006 em ordem alfabética (essa lista tem os filmes que vi, imagino que é possível ter algum que não vi que poderia entrar na lista):

- A Bittersweet Life - Não foi lançado no Brasil ainda (e nem sei se será) mas vi o DVD importado.
- A Criança
- Filhos da Esperança
- Os Infiltrados
- O Labirinto do Fauno
- O Que Você Faria?
- Serenity – A Luta Pelo Amanhã - Esse eu vi ano passado na mostra, mas ele foi lançado esse ano direto em DVD (esses porcos das distribuidoras!).
- V de Vingança
- Vôo United 93
- 007 - Cassino Royale

Chegaram perto de entrar na lista:
- Abismo do Medo
- Caché
- O Grande Truque
- Máscara da Ilusão (Lançado direto em DVD)
- Rejeitados Pelo Diabo (Lançado direto em DVD)

E ainda dou destaque para esses outros 12 filmes (também em ordem alfabética):
- O Balconista 2 - Não foi lançado no Brasil ainda, mas deve ser lançado esse ano (eu vi na mostra de cinema).
- Bubble
- Hooligans (Lançado direto em DVD)
- Jogos Mortais 3
- Lady Vengeance - Também não foi lançado no Brasil ainda, mas vi o DVD importado.
- Murderball – Paixão e Glória
- Obrigado por Fumar
- O Plano Perfeito
- A Proposta (Lançado direto em DVD)
- Seres Rastejantes
- Superman – O Retorno
- X-Men – O Confronto Final

Destaco tambem esses 3 filmes nacionais (afinal, estamos no Brasil e precisamos incentivar nosso cinema):
- O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias
- Cinema, Aspirinas e Urubus
- Crime Delicado

domingo, dezembro 24, 2006

Trailer Reeditado 1

Num mês de dezembro com poucas atualizações no blog, o trailer do filme Como Enlouquecer Seu Chefe versão thriller.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Blacksad



Eu não leio tantos quadrinhos europeus quanto eu gostaria. Na verdade eu leio bem menos do que eu gostaria. Mas, felizmente, de tempos em tempos consigo por as mãos em algum material. E o último dessa leva que me chamou a atenção foi Blacksad, publicação francesa, de criação espanhola, com roteiros de Juan Diaz Canales e arte de Juanjo Guarnido. A série, que chegou as minhas mãos em meados de 2004, trata das aventuras de John Blacksad, um detetive que vive as voltas com casos sórdidos em um mundo infestado pela corrupção e cheio de sexo e violência. Três histórias já foram lançadas, o primeiro Somewhere Within the Shadows (denominada somente Blacksad nos EUA), publicado em 2000, apresenta o personagem principal investigando o assassinato de uma atriz com quem ele se envolveu no passado. O segundo, Artic Nation, publicado em 2003, leva o protagonista a investigar uma série de crimes raciais e traz a discussão da descriminação racial por cor no sul dos EUA, abordando até a Klu Klux Klan. E o terceiro e último álbum, lançado em 2005 e intitulado Red Soul, trata do McCarthysmo nos EUA no pós-guerra. Além das três histórias um sketchbook foi publicado, com entrevistas e diversos desenhos.

Todos os personagens da série são bichos, e é nesse universo antropomórfico estabelecido em um ambiente de filme noir, que a história se passa. O mundo é muito semelhante ao nosso, inclusive historicamente, porém ao invés de pessoas existem bichos dos mais diversos tipos. E cada bicho parece ser selecionado para refletir a personalidade do personagem. John Blacksad é um gato preto, o chefe de polícia Smirnov é um cão Pastor Alemão, um dos investigadores policiais é uma raposa, os capangas geralmente são ursos e rinocerontes, Weekly, um jornalista parceiro de Blacksad, é uma Doninha marrom, e assim vai. Diversas personalidades já foram representadas, entre elas o próprio Hitler, que apareceu em uma foto como um gato; o senador Joseph McCarthy, representado como um galo e chamado na história de Senator Gallo; e Allen Ginsberg, famoso poeta beat norte americano, representado por um Bisão chamado Greenberg.

A história se passa no final da década de 50 nos EUA e é tudo muito bem caracterizado pelo clima noir. Não exatamente o noir clássico do cinema norte americano, pois o quadrinho é, por exemplo, colorido; mas o universo noir de damas sensuais e fatais, do clima das grandes histórias de detetives e inclusive da estrutura de histórias policiais clássicas.

Grande parte dessa caracterização se deve a soberba arte de Guarnido. O desenho é espetacular e a colorização fantástica. E não é só a habilidade dele que impressiona, e quando falo da habilidade quero dizer o conhecimento técnico (anatomia, perspectiva, e etc..), mas o quão sólida é sua linguagem visual e sua narrativa. Supostamente oriundo da animação (é dito no primeiro gibi de Blacksad que tanto ele quanto Diaz Canales trabalharam na Disney européia antes de se lançarem nos quadrinhos), Guarnido, como nota Steranko (ele mesmo) na introdução da primeira HQ, desenha seus personagens animais com mais expressão do que muitos artistas desenham pessoas. Sua arte é impressionante como só os grandes quadrinístias europeus conseguem ser, e o quadrinho se beneficia disso. A história, que poderia muito bem ser um desenho da Disney adulto, possui um visual realista e sujo, uma narrativa visual cinematográfica e um belíssimo tratamento das imagens, desenhadas a aquarela com maestria por Guarnido

O texto não esta a altura da arte, Diaz Canales conduz uma história mediana no primeiro volume e um pouco mais interessante no segundo. Esta longe de ser uma história ruim, mas não é tão boa quanto a arte. Já na terceira edição a qualidade do texto se eleva bastante, sendo, pra mim, o mais bem escrito. Mas em todos os três o texto não falha em trazer questões historicamente pertinentes e de cumprir o papel de ser um bom entretenimento.

Se você gosta de histórias policiais, de filmes noir ou de histórias de detetives, ou ainda se você é fã da Disney e sempre se perguntou como seria a qualidade dos desenhos aplicada a uma temática adulta, Blacksad é um bom exemplo de onde se poderia chegar.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Borat

Borat é o filme sensação do momento. A comédia protagonizada pelo comediante inglês Sacha Baron Cohen liderou a bilheteria no primeiro final de semana nos EUA arrecadando 26,4 milhões em apenas 837 salas (a média é de mais de 2 mil salas nas estréias), números que colocam o filme como a terceira melhor média da história, atrás somente do segundo Piratas do Caribe e do primeiro Homem-Aranha (dados vistos no site Omelete). Além disso a crítica e o público adoraram o filme. Está na lista dos 250 melhores do IMDB e no Rotten Tomatoes recebeu uma média de 92% dizendo que o filme é ofensivo do jeito mais engraçado possível. O filme é um documentátio falso onde Cohen interpreta o personagem Borat, um jornalista do Cazaquistão que vai aos EUA aprender valiosas lições para seu país. Ele acaba convencendo todo mundo nas ruas da veracidade de sua história, o que inclusive está lhe rendendo alguns processos na justiça (que não devem ser problema com o dinheirão que o filme está ganhando) e ataca a tudo e a todos com suas piadas. Chega de conversa, veja os primeiros quatro minutos do filme (chega no Brasil em fevereiro, estou ansioso):



E aproveitando o humor ácido inglês para dar a dica: chegou no Brasil a edição de luxo do Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado. Clássico absoluto!

sexta-feira, novembro 24, 2006

Ultimate 4



Eu sempre gostei do Quarteto Fantástico (Fantastic Four), nunca foi o meu grupo preferido de heróis, mas sempre que eu podia pegava alguma coisa deles pra ler. Claro que eu comecei a ler o que estava saindo na época, mas logo fui mergulhando no que já havia sido feito. Demorei um pouco pra chegar nos clássicos, e só recentemente, coisa de um 5 anos atrás, fui ler as histórias originais.

O Quarteto foi criado em 1961 por Stan Lee e Jack Kirby para embarcar na recuperação que o gênero de HQs de super-heróis vinha tendo depois da censura de Wertham (bem a grosso modo, um psicólogo cretino que publicou um livro atribuindo a delinqüência juvenil, entre outros problemas sociais dos jovens americanos, aos quadrinhos e que iniciou uma caça as bruxas no nas editoras de HQ) e da conseqüente instalação do CCA (Comics Code Authority). A DC havia se utilizado de outros gêneros para relançar seus super-heróis (como a ficção científica em Challengers of the Unknow, também de Kirby), e acabara de obter sucesso com um grupo de super-heróis, a JLA (Liga da Justiça), então novidade no meio. Lee e Kirby embarcaram nessa juntando as duas coisas e criaram o primeiro super-grupo da Marvel estabelecendo, com a própria origem do grupo na primeira história, o tema que marcaria a HQ: a ficção científica.

O que eu sempre gostei nas histórias do Quarteto era exatamente a presença da ficção científica, fosse abertamente nas sagas espaciais, ou nas mais disfarçadas onde os elementos cósmicos surgiam no decorrer da trama. Introduzido nas histórias de Lee e Kirby, o elemento ficcional científico ganhou muito peso nas HQs que John Byrne fez com o Quarteto. Pra mim, quem melhor vem representando esse tipo de história do Quarteto hoje em dia é o Ultimate Fantastic Four. Eu li os de Lee e Kirby (não tudo mas um bocado), que são incomparáveis; li os de Byrne, que são sensacionais; li muitos outros, apesar de não ser um fã psicótico como eu já disse; mas na série Ultimate o Quarteto realmente nasceu imbuído da ficção científica.

Criados, ou melhor, adaptados por Brian Bendis e Mark Millar, o Ultimate Fantastic Four começa como qualquer outro titulo Ultimate, inserindo o grupo e sua história no contexto de hoje em dia. Isso permite que os autores façam uso da atual tecnologia para dar suporte às histórias, o que, por conseqüência torna a ficção científica presente na história bem mais interessante e verossímil, sem perder seu caráter absurdo e fantástico. Não que os aparatos e máquinas de Kirby não fossem fantásticos, mas estes novos são criados a partir de 40 anos de descobertas e evolução científica. Adam Kubert completou o time desenhando o título quando este foi lançado e trouxe todo o dinamismo de sua linguagem para a HQ. Seu estilo mais cartunizado, mas sem perder a pitada de realismo, caiu como uma luva na história.

Mas foi depois das 6 primeiras edições que o título realmente decolou. Na minha opinião quem tripudiou em cima do conceito do grupo foi mesmo Warren Ellis. Ele assumiu os textos da HQ no número 7 e potencializou a relação do grupo com seu maior rival, o Dr. Destino, além de potencializar o próprio grupo. Acompanhado pelo desenhista Suart Immonen (já falei dessa dupla, olha lá embaixo), trouxe elementos muito interessantes ao universo do Quarteto.

Em seguida Kubert retornou e ao lado de Ellis (ainda nos textos) conduziu o grupo a sua primeira aventura em outra dimensão (#13 a 18), trazendo de vez os elementos clássicos da ficção científica com uma abordagem mais pós-moderna. Depois a dupla infelizmente deixou a HQ de vez, e por 2 edições Mike Carey e Jae Lee contaram uma aventura dentro do próprio Baxter Building. Não muito boa por sinal.

Na edição 21 Mark Millar retornou e trouxe com ele um novo desenhista, Greg Land. Millar já provou o que pode fazer com super-grupos, primeiro em Authority, sucedendo o próprio Ellis, e depois em Ultimates, e em Ultimate Fantastic Four não decepcionou. Ele introduziu zumbis de outra dimensão, o Namor em versão Ultimate, os Skrulls e retornou com Zumbis e Dr. Destino para fechar sua passagem. Tudo desenhado por Land, que tem um estilo muito fotográfico pro meu gosto, mas que fez um bom trabalho na HQ.

Recentemente Mike Carey voltou como escritor e trouxe uma saga muito interessante, onde coloca os heróis contra um grupo de viajantes inter-dimensionais que surgem na terra em busca de um artefato (ou alguém). Os grupos entram em conflito e o Quarteto é levado por eles para sua dimensão, onde somos apresentados a Thanos em versão Ultimate. Quem cuida dos desenhos é Pascal Ferry, cujo traço europeu caiu muito bem à saga. Essa aventura espacial inter-dimensional de Carey e a narrativa cinematográfica de Ferry, a saga, e o título, continuam prometendo.

Eu não estou dizendo que Ultimate Fantastic Four é o melhor Quarteto de todos os tempos, longe disso, mas é o meu preferido em um bom tempo.

terça-feira, novembro 21, 2006

Última da Mostra


Hollywoodland - Bastidores da Fama (Hollywoodland, 2006) - Hollywoodland é um bom exemplar recente do film noir, mostrando a investigação da misteriosa morte do ator George Reeves, que interpretou o Superman na série de TV dos anos 50, ao mesmo tempo em que mostra em flashbacks um pouco da vida do ator. O filme é interessante, mas eu gostei mais das partes da história que mostram a vida do ator do que as partes investigativas, o que me faz pensar que talvez fosse mais interessante se o filme se focasse mais nessas partes. Mas, apesar disso, um bom filme com boas atuações do elenco (inclusive Ben Affleck, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza).

Luzes na Escuridão (Laitakaupungin valot, 2006) - Terceiro de uma trilogia do diretor finlandês Aki Kaurismäki sobre "losers", sendo os outros Nuvens Passageiras (ganhador do prêmio de audiência da Mostra em 1996) e O Homem Sem Passado (indicado ao Oscar de filme estrangeiro em 2003). Não assisti os outros dois, mas li que eles tem mais humor (também presente nesse). Pode parecer lento para o público em geral, mas um filme que me agradou com seu estilo noir.

Clerks II (idem, 2006) - Muito bom. Não há muito o que dizer aqui: se você gostou do primeiro faça um favor a você mesmo e não perca o segundo de jeito nenhum, pois o Kevin Smith aqui se sente em casa para destrinchar o melhor do seu humor característico.

Babel (idem, 2006) - Mais um belo exemplar do diretor Alejandro González Iñárritu, completando a sua não-oficial trilogia (iniciada com Amores Brutos e 21 Gramas). Apesar de ter gostado desse, gosto mais dos outros dois, que acho serem mais coesos. Li em uma entrevista na Revista Trip com Guillermo Arriaga, o roteirista da trilogia, que na verdade ele bolou tudo como uma quadrilogia que teria como primeira história Cielo Abierto, a única que não virou filme por enquanto (e que, infelizmente, dificilmente será dirigida por Iñárritu pois os dois tiveram um desentendimento durante Babel).

E isso completa a cobertura dos filmes que vi na mostra, com os melhores na minha opinião sendo Os Infiltrados, O Labirinto do Fauno e Clerks II.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Mostra?


É, eu sei, a mostra já acabou (inclusive a programação extra), mas ainda não falei de todos os filmes que vi:

Shortbus (idem, 2006) - Eu começaria dizendo o que eu acho que também vale para o filme Irreversível: você precisa saber antecipadamente sobre algumas cenas do filme e se isso o incomodar não assista o filme. Se em Irreversível eram as cenas do estupro e do extintor de incêndio, aqui são as cenas de sexo explícito que podem incomodar algumas pessoas. Digo, sem preconceito, que as cenas de sexo entre homens me incomodaram um pouco sim, nesse filme que quer discutir relacionamentos e sexualidade nos dias de hoje numa Nova York pós 11 de setembro. O filme tem a seu favor o tom bem humorado e o jeito autêntico com que apresenta as situações e os diálogos (na sua maioria por atores não profissionais).

A Scanner Darkly (idem, 2006) - Como fã do escritor Philip K. Dick, esse era um dos filmes que eu mais esperava nessa mostra (era pra ele ter sido lançado no circuito em agosto, mas até agora nada). Gostei do filme, mas saí um pouco decepcionado pois esperava muito mais (não li o livro em que foi baseado, mas li que o filme é bem fiel). Gosto do processo de rotoscopia e acho que ele se encaixa bem no tema de paranóia da história. O filme apresenta ainda um bom final, como uma boa história do Philip K. Dick.

Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita (Indagine su un cittadino al di sopra di ogni sospetto, 1970) - Investigação ganhou o oscar de filme estrangeiro em 1971. Realmente é um bom filme que conta uma história bem interessante sobre como pessoas poderosas dificilmente respondem por seus atos, tema que ainda vale para os dias de hoje (ou faz ainda mais sentido hoje em dia). Destaque também para a bela trilha do mestre Morricone.

Edmond (idem, 2005) - Filme curto (76 minutos) dirigido por Stuart Gordon, mais famoso por filmes de terror como Re-Animator, baseado em conto de H.P. Lovecraft. Edmond é baseado numa peça escrita por David Mamet, roteirista que gosto bastante e que também é responsável pelo roteiro. O filme é bem interessante, mostrando a transformação de um homem durante uma noitada em Nova York, indo do aparentemente normal até a loucura. O filme perde um pouco o ritmo no final, mas nada que o prejudique. Destaco também a boa atuação do William H. Macy.

No próximo post: Hollywoodland - Bastidores da Fama, Luzes na Escuridão, Clerks II e Babel.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Video Games Live no Brasil

foto: Jack Wall
Matéria: Théo Azevedo
Nos dias 12 e 19, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, recebem o Video Games Live, um concerto que faz uma homenagem à trilha sonora dos games, indo dos clássicos às criações mais modernas.
O show foi idealizado por Tommy Tallarico e Jack Wall, veteranos da indústria do entretenimento eletrônico e, após visitar os Estados Unidos e o Canadá, escolheu o Brasil para dar início a sua turnê mundial, que deve passar ainda por Austrália e Japão.
É a chance dos brasileiros ouvirem um repertório que, acompanhados de luzes e performances, inclui músicas de "Mario", "Zelda", "Halo", "Metal Gear Solid", "Warrcraft", "Myst", "Castlevania", "Medal of Honor", "Sonic", "Kingdom Hearts", "Tron", "Final Fantasy", "Advent Rising", "Beyond Good & Evil" e "God of War", com um espaço retrô reservado a "Pong", "Donkey Kong", "Dragon's Lair", "Tetris", "Frogger", "Gauntlet", "Space Invaders" e "Outrun".
Com duas horas de duração, o concerto inclui ainda projeção de imagens em um telão de 300 polegadas sincronizadas com performances de cosplayers.
O UOL Jogos entrevistou Jack Wall, maestro do Video Games Live, e produtor de mais de trinta trilhas de games, incluindo "Myst", "Splinter Cell" e "Jade Empire".
Na entrevista também, ele diz que tem duas músicas que trás especial para o Brasil a de "Tomb Raider" e a "Liberi Fatali" Uma das músicas mais fortes da abertura do Final Fantasy VIII.
Vale muito a pena para quem é fã.
MAIS INFORMAÇÕES
Video Games Live (em inglês):
No Rio de Janeiro:
Domingo, dia 12 de novembro, às 19h30h, no Claro Hall
Av. Ayrton Senna, 3000, Barra da Tijuca, no Shopping Via Parque
Preços: de R$ 80 a R$ 200
Tel: (21) 2156-7300
Venda online: Ticketmaster
Em São Paulo:
Domingo, dia 19 de novembro, às 20h, no Via FunchalRua Funchal, 65 - Vila Olímpia
Preços: de R$ 50 a R$ 180
Tel: (11) 3044-2727
Venda online: Via Funchal

quinta-feira, novembro 02, 2006

What I've been reading...




The Portent

The Portent é uma mini-série em 4 partes que saiu pela Image no primeiro semestre (na verdade começou a sair no primeiro semestre e acabou em Agosto). Criada por Peter Bergting, The Portent narra a história de Milo, um guerreiro transtornado pela culpa que busca redenção vagando por uma terra infestada por demônios, espíritos e outras criaturas. Até aí tudo bem, plot interessante, mas nada de mais, certo? Errado.

Peter Bergting não só criou a história como escreveu, desenhou, arte-finalizou, coloriu e letrerizou as 4 edições, fato raro hoje em dia, especialmente em quadrinhos norte-americanos (ou melhor, publicados nos EUA, pois Bergting é sueco!). Bergting tem um estilo profundamente inspirado em Mignola, mas ele traz algumas pitadas de sua própria arte e da pra perceber que ele caminha a passos largos para uma linguagem própria interessante (Além de quadrinísta Bergting é ilustrador).

E não é só no visual que ele se inspira em Mignola, Portent transita entre diversas mitologias, casando principalmente duas, a chinesa e a nórdica. Isso traz uma combinação muito interessante. A HQ foi lançada sob o gênero Fantasia, mas o próprio autor descarta essa associação e defende que sua criação é uma espécie de Horror Mitológico, algo como um Dawn of the Dead situado em um cenário histórico mitológico do norte da Europa. O TPB (edição encadernada) sairá agora dia 13 de dezembro, uma ótima pedida para o natal. Especialmente se você é um fã de Hellboy, ou de mitologia nórdica/chinesa, ou ainda se for um fã de horror. O clima de “estamos a caminho do fim do mundo” não irá decepcioná-lo.

Dusty Star

Dusty Star é outro estranho cruzamento só que desta vez um pouco mais sujo e menos assustador (claro, se você não é do tipo que não se assusta com a violência por si só). Escrita por Joe Pruett e Andrew Robinson, que também é responsável pela arte (desenho, arte-final e cor), Dusty Star é uma combinação feroz de western e motocicletas. O primeiro número começa com a protagonista, que da nome ao gibi, buscando vingança contra seu ex-bando de pistoleiros. Dusty, a personagem, é uma pistoleira violenta e fria (e nesse caso estou falando da habilidade de atirar por dinheiro ou profissão e não da condição feminina de distribuir o rabo). A história é guiada pelos objetivos da personagem e a narrativa é ágil e direta. A arte de Robinson é sensacional, estilizada e dinâmica com páginas muito bem resolvidas e personagens fortes. Muito boa leitura e uma das melhores HQs que eu li nos últimos tempos em termos de storytelling. Pena que só tem uma edição até agora.

PS: Acabei de ver o Scream Awards 2006 e é disparado a melhor premiação da TV. Sem comparação com nenhuma outra. Sem a chatice, a pieguice e a conversa afiada comprada do Oscar e sem as enrolações dos outros prêmios. O que dizer de um prêmio que inclui quadrinhos lado a lado com filmes de ficção científica, horror e terror? Sensacional!

terça-feira, outubro 31, 2006

Mostra de Cinema 2 - A Missão


O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006) - Praticamente uma continuação do filme A Espinha do Diabo já que os dois tem os mesmos elementos: crianças envolvidas em temas fantásticos durante a guerra civil espanhola (além do diretor Guillermo Del Toro dirigir os dois). Eu gostei mais desse pois acho que os paralelos entre as duas histórias (a fantástica e a real) se encaixam ainda melhor, deixando espaço ainda para interpretações diferentes no final. Ainda destaco a interpretação de Sergi López como o vilão Capitão Vidal. Foi uma belíssima escolha do México para ser seu representante no Oscar (e digo até não muito usual por ser um filme com elementos fantásticos). Grande filme.

Os Infiltrados (The Departed, 2006) - Scorsese volta ao gênero que ele conhece muito bem, (sei que muita gente vai chiar, mas para mim o melhor filme de máfia é Os Bons Companheiros e não O Poderoso Chefão, que ficaria em um segundo lugar) esse Infiltrados é uma refilmagem do longa de Hong Kong Conflitos Internos (filme do qual sou fã) e posso dizer que agora sou fã desse também pois achei o filme tão bom quanto o original. Vi Conflitos Internos já faz um tempo mas pelo que me lembro o filme original é um pouco mais tenso do que sua refilmagem, que contém bons diálogos, boas atuações (Jack Nicholson se encaixa muito bem no papel) e um humor que eu não estava esperando. A refilmagem tem algumas diferenças na sua história em relação ao original as quais não vou citar para não estragar. Mais um grande filme.

Summer Palace (Yihe yuan, 2006) - Achei um filme meio sem sal e lento, que situa uma história de amor desde o fim dos anos 80 até dias mais recentes, mostrando alguns acontecimentos importantes desses períodos no processo. Tinha lido que o filme tem cenas polêmicas de sexo, mas não achei nada muito forte. Ah, e o ator que interpreta o personagem Zhou Wei tem o rosto que me lembrou Jackie Chan em alguns momentos.

Infância Roubada (Tsotsi, 2005)- Ganhador do Oscar em 2006 de filme estrangeiro, Infância Roubada mostra uma história que não é nenhuma novidade, a do criminoso que após um acontecimento se arrepende de seus crimes e busca redenção. Seria um filme clichê, mas que acaba sendo bem conduzido pelo diretor, tem boa fotografia e acaba prendendo a atenção até o seu final. Gostei do filme, mas acho que o Oscar deveria ter ido para Paradise Now (que dos 3 filmes que assisti dos 5 que concorreram ao Oscar de filme estrangeiro, achei o melhor).

A seguir: Shortbus, A Scanner Darkly, Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, Edmond e Hollywoodland - Bastidores da Fama.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Xenosaga

Começarei dizendo que esse foi um dos jogos que mais tive expectativas em jogos de RPG e que inicialmente a superou, mas infelizmente suas continuações deixaram muito a desejar.

O Xenosaga é uma "continuação" no futuro do jogo Xenogear. Apesar dos personagens serem diferentes, muitos conceitos e "descendentes" aparecem nessa "trilogia" (coloco entre parenteses, pois a vendagem do segundo episódio foi tão ruim que cancelaram os outros 3 que deveriam vir também). Muito do jogo se refere a religião e história do nosso mundo, como alguns nomes e situções que trazem de volta passagens "terrestres".

O primeiro episódio: "Der Wille Zur Macht" (A vontade do Poder) realmente foi uma obra de arte, com personagens carismáticos em uma situação de guerra cósmica. O clima tenso e enigmatico que roda entre os persongens prende a sua atenção para tentar desvendar todo o mistério. O Gráfico é lindo, as cores são bem definidas, e apesar das expressões serem limitadas isso dá até uma força a mais ao enredo, além de os cambates terem obtido uma atenção maior, facilmente notada durante a execução dos golpes especiais. A música de Yasunori Mitsuda regendo a orquestra filarmonica de Londres é o toque final de uma obra prima. O único ponto que me impede de não dar nota máxima ao jogo é o combate nos A.G.W.S. (Robôs) que peca nos movimento muito restrito e falta de interação entre si.

O segundo episódio: "Jenseits von Gut und Bose" (Além do Bem e do Mal) foi o início do fracasso. Tudo foi mudado, menos a história que no final provoca uma sensação do jogo estar incompleto e não que ele terá uma continuação. Mudou-se o gráfico que ganhou detalhes e expressões e perdeu carisma; a música que praticamente desapareceu focando mais nos sons ambientes; o sistema de batalhas foi inovado para ser mais interativo e esquecido com relação a beleza do primeiro; As vozes dos personagens (ao qual você cria um afeto pelos personagens e, pela mudança, parece que não são mais eles que estão lá) . O que parece é que não está se jogando o mesmo jogo. Porém o que mais me chamou atenção (para acabar logo com o jogo para não ter que passar por isso por mais tempo) foi a possibilidade de fazer alguns "trabalhos" que são dados por um coelho fofinho e o bonus que ganha por ter terminado o primeiro episódio que são roupas de praia (uma das melhores do jogo para piorar mais, pois vai ter que ficar desfilando se quer ter melhor proteção - ridiculo), em ambos os casos da um ar de leveza e inocencia durante a guerra entre os mundos, o mistério dos personagens e a destruição iminente, não é lindo? Deve ser para que quer jogar "O galinhoChicken Little" talvez, mas para quem gostou do clima tenso do primero, vá se preparando, afinal tem que ver se seu modelito novo combina com a destruição e se está na moda.

O terceiro episódio: "Also Sprach Zarathustra" (Assim falou Zaratustra) mais uma vez promete mudanças (já não sei se isso é bom). A história é a ultima da trilogia com o desfecho e os mistérios revelados. Apesar de dizerem que conseguiram juntar o melhor dos dos primeiros episódios, só saber que vai ter mais minigames já me deixa frustrado (não sei se vou aguentar aquele coelho pentelho de novo). Parece também, que será mais interativa a evolução dos personagens deixando o jogador escolher as perícias que ele terá. O gráfico parece que ficou algo entre os dois primeiros e o sistema de batalha sofrerá algumas modificações também. Só espero que não acrescentem mais persogens desnecessários novamente. Até lá fico na expectativa.

Boa Sorte a todos nós.

http://www.xenosaga.com/ (para quem quiser saber a história do jogo)

Iluminação e sabedoria a todos.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Mostra Internacional de Cinema - Parte 1

Um pouco atrasado mas alguns comentários de filmes vistos na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo:

Fonte da Vida (The Fountain, 2006) - Filme complexo, daquele tipo que deve ser visto mais de uma vez para sua total compreensão (pelo menos para minha compreensão). Isso quer dizer que eu não entendi nada do filme? Não. Deu para pegar a mensagem principal que quer mostrar que a morte não é o fim e várias de suas metáforas filosóficas. Mas eu não peguei todas as ligações entre as 3 histórias que compõe o longa (e todos os significados da história que se passa no espaço). Mas apesar disso o filme é bom e merece ser visto pelo menos uma vez. De qualquer jeito, no futuro pretendo assistí-lo de novo para tentar pegar todas as suas mensagens e ter uma opinião melhor formada sobre ele.

O Crocodilo (Il Caimano, 2006) - Filmes que mostram os bastidores de uma filmagem cinematográfica me agradam bastante (o que me lembra que preciso assistir A Noite Americana e Fellini 8 1/2), talvez por eu ter o sonho de ser um cineasta. Um que eu gosto bastante e não é muito conhecido é O Retorno de Sweetback, filme que mostra o começo da blaxploitation com a filmagem do longa Sweet Sweetback's Baadasssss Song no começo dos anos 70. Esse O Crocodilo também segue essa linha e novamente é um filme que me agradou. Mas enquanto na maior parte do filme o humor é um elemento que acompanha o drama, as cenas finais do filme tem uma mudança de tom que não me agradaram, deixando de lado a comédia dramática e partindo para algo mais sombrio, quando o diretor impõe sua visão política. Na minha opinião um deslize, mas que não chega a prejudicar o filme, que é muito bom.

O Ilusionista (The Illusionist, 2006) - Procurando Nemo e O Espanta Tubarões. Formiguinhaz e Vida de Inseto. Armageddon e Impacto Profundo. Eu lembro de ter lido uma repostagem uma vez que explicava o motivo de aparecerem filmes com temas iguais na mesma época, mas infelizmente não lembro o motivo. Agora aparecem dois filmes com mágicos: O Grande Truque e esse O Ilusionista, que tinha tudo pra ser um grande filme. E começa bem, pois tudo está muito bem feito: a fotografia, a reconstrução de época, os atores estão bem (não esperava menos do Edward Norton e do Paul Giamatti, atores que gosto bastante), a trilha sonora é boa, o filme prende a atenção, mas... tudo parece caminhar para um final óbvio, e é o que acaba acontecendo. E esse final óbvio e manjado é ruim e acaba prejudicando o filme num todo, caso que me lembrou do filme A Vila. O filme não é um desastre, mas não é bom. Agora é assistir O Grande Truque pra ver se pelo menos um dos dois filmes de magia agrada.

Outros filmes que já vi e comentarei em breve: O Labirinto do Fauno, Os Infiltrados, Summer Palace e Infância Roubada.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Agents of Hate


Nextawave é um grupo nada convencional de super-heróis que foi formado por uma organização chamada H.A.T.E. (Highest Anti-Terrorism Effort). Porém, quando eles descobrem que seus empregadores na verdade são financiados por uma organização terrorista eles se viram contra H.A.T.E. O grupo, liderado por Mônica Rambeu (a ex-líder dos Vingadores Capitã Marvel), conta com membros violentos e psicóticos em suas fileiras. Mas claro que você pode descobrir isso em qualquer site especializado, ou mais especificamente (preferencialmente, aliás), lendo o gibi. Eu quero falar aqui de duas outras coisas relacionadas a esta HQ, seus criadores e sua condição no mercado.

Nextwave é escrito por Warren Ellis, escritor britânico que começou trabalhando nas HQs de sua terra natal e entrou no mercado americano em 1994. Logo chamou atenção por sua capacidade de revitalizar, e muitas vezes salvar, títulos fadados ao cancelamento. Bem visto pela crítica Ellis logo fez trabalhos para DC, notadamente Transmetropolitan, título criado e escrito por ele e desenhado por Darick Robertson publicado pela Vertigo, selo adulto da DC; e para Image, mais especificamente Wildstorm. No fim da década de 90 lançou dois mega sucessos pela editora, Planetary, junto com o artista John Cassaday, e Authority com Brian Hitch Ambos venderam bem e foram um sucesso de crítica e já começaram a ser publicados aqui no Brasil. Authority em particular era um dos meus favoritos na época. O título narrava a história de um grupo de super-heróis mais o menos nos moldes da Liga da Justiça, só que ultraviolento e com a pitada de insanidade de Ellis. Seria uma espécie de Liga da Justiça sem limites, mas entenda o sem limites como sem limites mesmo, sejam eles éticos, morais, físicos, psicológicos e etc.

Depois disso, Ellis escreveu diversos títulos. Ajudou a remodelar algumas das revistas dos X-Men, escreveu o interessante Global Frequency pra DC, e em seguida, de volta a Marvel, ajudou a lançar o ótimo Ultimate Fantastic Four e o Homem de Ferro. Até chegar a lançar Nextwave com Stuart Immonen no desenho.

Stuart Immonen já trabalhou um bocado nos quadrinhos. Já desenhou para Marvel (Vingadores, Capitão América, Quarteto Fantástico, Hulk, Homem-Aranha, Thor, entre outros) e para DC (Superman, Liga da Justiça, entre outros), e recentemente vem surpreendendo. Não me entenda mal, ele sempre foi um artista sólido, mas nos últimos anos Immonen vem mostrando que pode desenhar quase todo gênero de HQ. Ele trabalha com diversos estilos dentro de sua própria linguagem sem perder a identidade. Basta olhar a diferença entre sua arte para a mini-série Superman Secret Identity (Super-Homem Identidade Secreta) e o próprio Nextwave. Aliás, essa mini-série do Superman foi muito boa, idéia interessante e muito boa arte. Immonen com um estilo mais ilustrado, porém muito preocupado com storytelling trouxe uma narrativa que se encaixou muito bem com a história. A cor também funcionou muito bem. Mas em Nextwave ele mudou completamente, adotando um traço mais estilizado e limpo que combinou perfeitamente com o tom cômico da HQ. E seu storytelling esta cada vez melhor e cada vez mais relacionado a história.

Nextwave é uma ótima paródia pós-moderna dos quadrinhos norte americanos, cheia de citações e menções aos clássicos do gênero supergrupos de heróis. Ellis brinca o tempo todo com conceitos estabelecidos de super-heróis atuando em grupo, de super-heróis atuando individualmente, de super organizações anteterrorista (leia-se Shield) e seus lideres machões e com muitos outros clichês da industria. O texto ágil e as caracterizações críticas dos personagens tornam o título uma interessante paródia dos supergrupos como Vingadores e Liga da Justiça. Mais o primeiro do que o segundo, pois Ellis já havia mirado sua metralhadora pós-moderna na JLA quando escreveu Authority, agora seu alvo são os Vingadores.

Mas, como a permanência de um gibi no mercado depende de suas vendas, foi divulgada essa semana que Nextwave # 12 vai ser o último número da série. Não era pra ser uma série limitada, mas será. Ellis disse que podem ser feitas mini-séries do grupo depois, mas que essa leva termina aí. Uma pena, mais uma vez um bom título entala nas vendas. Talvez os leitores de um modo geral resistam um pouco em tentar HQs novas, talvez seja mesmo difícil emplacar um grupo de super-heróis com uma boa dose de comédia ou talvez o título fosse muito doido pra grande massa de leitores desavisados. O fato é que bobeou acontece isso. Ainda bem que nenhum dos dois criadores sairá queimado dessa, pois ambos já tem trabalhos engatilhados.

Então, pra todos vocês que compram quadrinhos importados e não estavam comprando Nextwave, valeu mesmo seus babacas! Praqueles que estavam, uma pena, mas vocês sabem do que eu estou falando. E pra vocês que lêem quadrinhos traduzidos, não deixem de dar uma olhada quando sair por aqui. Vale a pena.