quarta-feira, outubro 18, 2006

Agents of Hate


Nextawave é um grupo nada convencional de super-heróis que foi formado por uma organização chamada H.A.T.E. (Highest Anti-Terrorism Effort). Porém, quando eles descobrem que seus empregadores na verdade são financiados por uma organização terrorista eles se viram contra H.A.T.E. O grupo, liderado por Mônica Rambeu (a ex-líder dos Vingadores Capitã Marvel), conta com membros violentos e psicóticos em suas fileiras. Mas claro que você pode descobrir isso em qualquer site especializado, ou mais especificamente (preferencialmente, aliás), lendo o gibi. Eu quero falar aqui de duas outras coisas relacionadas a esta HQ, seus criadores e sua condição no mercado.

Nextwave é escrito por Warren Ellis, escritor britânico que começou trabalhando nas HQs de sua terra natal e entrou no mercado americano em 1994. Logo chamou atenção por sua capacidade de revitalizar, e muitas vezes salvar, títulos fadados ao cancelamento. Bem visto pela crítica Ellis logo fez trabalhos para DC, notadamente Transmetropolitan, título criado e escrito por ele e desenhado por Darick Robertson publicado pela Vertigo, selo adulto da DC; e para Image, mais especificamente Wildstorm. No fim da década de 90 lançou dois mega sucessos pela editora, Planetary, junto com o artista John Cassaday, e Authority com Brian Hitch Ambos venderam bem e foram um sucesso de crítica e já começaram a ser publicados aqui no Brasil. Authority em particular era um dos meus favoritos na época. O título narrava a história de um grupo de super-heróis mais o menos nos moldes da Liga da Justiça, só que ultraviolento e com a pitada de insanidade de Ellis. Seria uma espécie de Liga da Justiça sem limites, mas entenda o sem limites como sem limites mesmo, sejam eles éticos, morais, físicos, psicológicos e etc.

Depois disso, Ellis escreveu diversos títulos. Ajudou a remodelar algumas das revistas dos X-Men, escreveu o interessante Global Frequency pra DC, e em seguida, de volta a Marvel, ajudou a lançar o ótimo Ultimate Fantastic Four e o Homem de Ferro. Até chegar a lançar Nextwave com Stuart Immonen no desenho.

Stuart Immonen já trabalhou um bocado nos quadrinhos. Já desenhou para Marvel (Vingadores, Capitão América, Quarteto Fantástico, Hulk, Homem-Aranha, Thor, entre outros) e para DC (Superman, Liga da Justiça, entre outros), e recentemente vem surpreendendo. Não me entenda mal, ele sempre foi um artista sólido, mas nos últimos anos Immonen vem mostrando que pode desenhar quase todo gênero de HQ. Ele trabalha com diversos estilos dentro de sua própria linguagem sem perder a identidade. Basta olhar a diferença entre sua arte para a mini-série Superman Secret Identity (Super-Homem Identidade Secreta) e o próprio Nextwave. Aliás, essa mini-série do Superman foi muito boa, idéia interessante e muito boa arte. Immonen com um estilo mais ilustrado, porém muito preocupado com storytelling trouxe uma narrativa que se encaixou muito bem com a história. A cor também funcionou muito bem. Mas em Nextwave ele mudou completamente, adotando um traço mais estilizado e limpo que combinou perfeitamente com o tom cômico da HQ. E seu storytelling esta cada vez melhor e cada vez mais relacionado a história.

Nextwave é uma ótima paródia pós-moderna dos quadrinhos norte americanos, cheia de citações e menções aos clássicos do gênero supergrupos de heróis. Ellis brinca o tempo todo com conceitos estabelecidos de super-heróis atuando em grupo, de super-heróis atuando individualmente, de super organizações anteterrorista (leia-se Shield) e seus lideres machões e com muitos outros clichês da industria. O texto ágil e as caracterizações críticas dos personagens tornam o título uma interessante paródia dos supergrupos como Vingadores e Liga da Justiça. Mais o primeiro do que o segundo, pois Ellis já havia mirado sua metralhadora pós-moderna na JLA quando escreveu Authority, agora seu alvo são os Vingadores.

Mas, como a permanência de um gibi no mercado depende de suas vendas, foi divulgada essa semana que Nextwave # 12 vai ser o último número da série. Não era pra ser uma série limitada, mas será. Ellis disse que podem ser feitas mini-séries do grupo depois, mas que essa leva termina aí. Uma pena, mais uma vez um bom título entala nas vendas. Talvez os leitores de um modo geral resistam um pouco em tentar HQs novas, talvez seja mesmo difícil emplacar um grupo de super-heróis com uma boa dose de comédia ou talvez o título fosse muito doido pra grande massa de leitores desavisados. O fato é que bobeou acontece isso. Ainda bem que nenhum dos dois criadores sairá queimado dessa, pois ambos já tem trabalhos engatilhados.

Então, pra todos vocês que compram quadrinhos importados e não estavam comprando Nextwave, valeu mesmo seus babacas! Praqueles que estavam, uma pena, mas vocês sabem do que eu estou falando. E pra vocês que lêem quadrinhos traduzidos, não deixem de dar uma olhada quando sair por aqui. Vale a pena.