quinta-feira, maio 31, 2007

Ultimates' End


Enfim saiu o Ultimates Vol. 2 # 13 e enfim eu li. Depois de meses de espera, Mark Millar (escritor), Brian Hitch (desenhista) e Paul Nery (arte-finalista) lançaram o último número do segundo ano da saga e pudemos ler o final da história, ou pelo menos o final por enquanto.

Como no primeiro ano, o desenrolar da saga foi mais interessante do que o final. A segunda temporada, como foi chamada, abordou a divindade ou não de Thor e colocou o grupo contra um super grupo “terrorista” mundial. Formado por chineses, russos e árabes esse super grupo foi criado para se opor aos Ultimates e dominar os EUA. Isso tudo articulado por Loki, o irmão de Thor e deus da trapaça. Não vou contar aqui o que acontece, mas Millar tinha algumas possíveis rotas a seguir com a trama e ele escolheu uma dentre elas. Nada muito surpreendente, porém muito bem feito. E esse é o grande atrativo desse título.

Um dos melhores gibis dos últimos tempos, Ultimates sempre se destacou pela qualidade do que estava sendo apresentado. Millar escreve muito bem e sabe organizar idéias e conduzir a trama de forma interessante. Além de caracterizar os personagens com maestria e bolar diálogos muito bons. O Capitão América do universo Ultimate, e o Thor são, pra mim, dois dos melhores e todo o grupo de personagens é bem feito. Além disso a HQ ainda traz a temática do universo Ultimate, que é trabalhar com os personagens clássicos da Marvel de uma forma pós-moderna, ou seja, de fazer uma paródia crítica e antenada nos dias de hoje. O universo Ultimate é bem mais violento do que o universo “normal” da Marvel, e os personagens e as histórias são muito mais inseridos no contexto real do mundo. Millar usa isso para, por exemplo, criticar discretamente o governo Bush, especialmente neste final. Se ter HQs mais violentas é perigoso, ou se isso desvirtua os personagens, se é bom ou ruim não me interessa discutir aqui. Do meu ponto de vista são soluções criativas muito interessantes e oferecem muitas possibilidades de exploração desse universo. E vem também atender a uma demanda do atual público de quadrinhos, que já não é há muito tempo formado por crianças, e sim aqueles que foram crianças na década de 80 e início de 90, e aqueles que continuam lendo HQs desde sempre. Se é por causa desse tipo de título que não se tem tido renovação no público de quadrinhos, e eu acho que não, também não me interessa discutir aqui.

O que me interessa é ler os Ultimates como um produto claramente de sua época, e um produto de alta qualidade, como eu já disse. Além do texto muito bom de Millar, a arte de Hitch não tem paralelos no mercado de hoje. Não estou dizendo que ele é o melhor desenhista em ação hoje (rolem a página para baixo para descobrir quem eu acho que é o melhor hoje em dia), mas sim que ele é único no mercado norte-americano e é tratado como tal. Seu estilo realista, que não é um hiper realismo a lá Alex Ross pois tem um tanto de estilização, e sua narrativa cinematográfica são fantásticos e muito bem feitos. Seus desenhos super detalhados e sua renderização são impressionantes. Claro que isso tem um preço, que já foi pago por muitos outros, como Travis Charest pra citar um. Hitch demora muito mais tempo para desenhar suas histórias, e consequentemente suas HQs não saem mensalmente )pra dizer a verdade atrasam pra cacete!). E os fãs esperam, putos, mas esperam. Mas no geral sua arte é impressionante, e esta última edição é completamente dedicada a ela, páginas e mais páginas de combate destruindo a o país inteiro. Até um spread de seis páginas da batalha final tem na HQ.

Tanto a primeira temporada quanto a segunda teve boas histórias, momentos marcantes e finais abaixo do esperado. Não muito abaixo, mas menos interessantes do que prometiam. Mas ambas mostraram que tudo é possível neste universo Ultimate. Ao final, o grupo deixa de ser uma força financiada pelo governo norte-americano e passa a trabalhar de forma independente, objetivando atuar, a partir de agora, de forma global.

E é exatamente o futuro do título que vem preocupando os fãs. O fim desta temporada marca a despedida de Millar e Hitch e a dupla que vem por aí é completamente diferente dos dois. Jeph Loeb assumirá os textos e Joe Madureira os desenhos. Acho bacana a iniciativa de chamar uma dupla diferente, como o próprio Millar disse, seria muito ruim ter alguém parecido com eles continuando a HQ. O problema, a meu ver, são os nomes escolhidos. Loeb, pra mim é, por demais burocrático para trabalhar em um título tão violento e com uma realidade tão crua como Ultimates. Não estou dizendo que ele não é bom, particularmente não sou muito fã de seu trabalho, apesar de ter gostado bastante das colaborações dele com Tim Sale em Batman The Long Halloween e Superman For All Seasons. Mas acho que ele trabalha bem quando apela para uma certa poética na narrativa, como em Superman For All Seasons, mas não tão bem quando trabalha com temas mais pesados. Seu texto funcionou bem no mistério de Long Halloween, mas funcionou muito mal em Batman Hush, que fez em parceria com Jim Lee. A saga foi boa, mas o final estúpido. E sua participação no título Superman/Batman foi de dar nos nervos de ruim. Assim, entendo o ceticismo dos fãs quanto a sua escalação.

Como também a de Joe Madureira, cujos trabalhos fogem por completo da temática Ultimates. Seu traço é muito cartunizado e mangá para o realismo da HQ. Gosto bastante de seu trabalho, mas é um bocado repetitivo. Ele está afastado do mercado faz um bom tempo, aparentemente trabalhando com games, então não sei o quanto ele pode ter mudado nesse meio tempo. De qualquer forma, acho a escalação dele menos pior do que a de Loeb. Obviamente que ambos podem fazer um trabalho do caralho no título, aliás, estou torcendo para que façam, mas vou esperar pra ver. E é claro que o primeiro objetivo da Marvel, que é explodir de ganhar dinheiro, está mais do que garantido com a dupla.
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Em tempo: Será relançado agora em julho toda a saga dos Novos Deuses do Kirby. Sairá em um encadernado gigante, de capa dura e com 396 páginas com The New Gods #1-3, Forever People #1-3, Mister Miracle #1-3 e Superman's Pal Jimmy Olsen #133-139 todos organizados cronologicamente. Jack Kirby's Fourth World Omnibus vol. 1 é imperdível para qualquer fã de quadrinhos, psicótico ou não.

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